eu-museu-rosana-paste-exposicao-chamada-05-feat (1)

Exposição “EuMuseu”

ROSANA PASTE
de 09 de maio a 14 de junho de 2014

Depois de nove anos sem expor, a artista plástica capixaba Rosana Paste retorna com uma exposição individual chamada “eumuseu rosana paste”. A abertura da mostra será no próximo dia 8 de maio, às 19h30, na Galeria Matias Brotas. A artista também lança seu livro “eumuseu rosana paste”.

Referências recorrentes nos trabalhos da artista plástica Rosana Paste são esculturas em escala arquitetônica ou em forma de múltiplos, e agora num recorte de sua produção, evidencia o corpo como parte de seu projeto artístico. Na mostra “eumuseu rosana paste”, essas referências tornam-se ainda mais evidentes. A exposição reúne esculturas, fotografias, desenhos, plotagens, adesivos, com foco no desenvolvimento da proposição artística Geografia Genética, onde entra o corpo como obra, a história e a memória, que ela revela também através de fotos comparativas de três gerações de sua família: ela, Dona Jove (mãe), Daniel (filho).

“Em 2002 iniciei o projeto de Geografia Genética, que consiste em fotografar três gerações de uma mesma família sempre de amigos, ou seja, avô-pai-neto ou avó-mãe-neta. As fotos são das mesmas partes dos corpos onde a pele fica em evidência, uma mostragem da ação do tempo naquele espaço/corpo e naquele corpo/tempo. Naquele ano as fotos foram projetadas sobre uma escultura de pele de coelho e ferro. Considerei desde então, que o trabalho exposto estava iniciando, que o processo de pensar e construí-lo deveria ser aprofundado, multiplicado, transformado”, explica.

Na performance “artista de corpo presente”, Rosana como proponente convida Taiza Ammar, Lobo Pasolini e Jocimar Nalesso, o coletivo que desenvolveu o trabalho do livro: “Rosana nos esperava em casa como uma sacerdotisa pagã que prepara um ritual, um ritual onde o corpo da artista, peça central de sua obra, seria ofertado como material para ser manuseado, manipulado e re-territorializado como parte de uma performance registrada para esse livro”, conta Lobo Pasolini.

A artista coloca seu corpo como eixo principal do trabalho em processo, disponibilizando somente tesouras e placas de chumbo para serem moldadas. O registro fotográfico do processo está no livro “eumuseu rosana paste”, que será lançado na noite do vernissage.

Outra referência importante na obra da artista é a utilização de múltiplos. Nesta mostra os múltiplos aparecem em sete delicadas e instigantes esculturas de cadeiras em aço inox e veludo com o titulo “entre rainhas”. Sete livros de chumbo, com pele de coelho e encadernados com fio de prata, também são múltiplos na exposição, mesmo o chumbo sendo um material pesado, é maleável, podendo suas páginas, ser folheadas. Para a artista, os livros são “meio que diários, recortes de memórias, lugares onde o pensamento se permite….”.

O “eumuseu”, segundo a visão da artista é um conceito ampliado de museu, pois todos nós carregamos por gerações nossas memórias, objetos que remontam nossas histórias, afetos, e talvez nossa maior peça de museu seja nossa genética, uma vez que ela nos é dada. A Geografia Genética é uma proposição artística, mas também uma provocação artística. Quem quiser pode construir a sua.

A exposição reúne trabalhos feitos a partir de uma gama de materiais que vem marcando a trajetória da artista e dando corpo à suas idéias filosóficas, incluindo chumbo, pele de coelho, aço inox, o veludo e mármore sintético. O projeto inicia em 2002, mas as esculturas e o livro foram realizados entre 2013 e 2014.

Além das esculturas, o livro apresenta desenhos e pensamentos da artista, textos de Lobo Pasolini que ganham vida própria, pois não estão ali para ser literal com a imagem, mas sim para agregar mais informações à complexidade do projeto. Para Rosana, o fotógrafo teria que ser um cúmplice da artista para captar flagrantes silenciosos, e assim o fez Jocimar Nalesso, sem maquiagem, mostrando uma realidade processual que parece mudar a toda hora, a cada página virada. Taiza Ammar como designer gráfica teve a sensibilidade para cortar e montar os registros fotográficos e os textos, criando novos territórios e multiplicidades interpretativas dos trabalhos.

Tudo isso e muito mais o fruidor de arte poderá ver e participar. A artista plástica prepara para a exposição um espaço do afeto, onde vai mostrar uma peça de vestuário antiga, de 1954, e que em 2011 ela reterritorializou em chumbo com o título “Calcinha para noite de núpcias”. A exposição e o livro “eumuseu rosana paste” traz investigações contemporâneas de arte, onde o pensamento e a prática andam juntas na construção do trabalho.

“O EUMUSEU É A VIDA
COMO UM CANTEIRO DE OBRAS
ESCULPIDAS PELO TEMPO. DoNA
ROSANA É SEU MATERIAL E FIO
CONDUTOR. NELA OS CÓDIGOS
DA GEOGRAFIA GENÉTICA SE
CRUZAM E SE FECUNDAM”.
Lobo Pasolini

Texto Crítico: Geografia genética e o Eu na arte de Rosana Paste – Lobo Pasolini